Frei Betto falou de modernidade, espiritualidade e controle social

Cerca de 200 pessoas acompanharam na tarde dessa terça-feira, dia 1 de dezembro, a palestra de Frei Betto no auditório do Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina (TCE/SC). Ele falou de modernidade, turbulências atuais e como os avanços da tecnologia ainda não ajudaram para minimizar os problemas mundiais.

O evento foi promovido em conjunto pela Associação dos Servidores do TCE/SC (ASTC), Sindicato dos Servidores do TCE/SC (Sindicontas), Sindicato dos Servidores do Ministério Público de Santa Catarina (SIMPE) e do Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa (Sindalesc). A palestra integra o projeto Trilhas do Conhecimento da ASTC e foi aberta ao público.

Ao iniciar sua fala, o escritor e religioso Frei Betto trouxe números surpreendentes sobre as dificuldades enfrentadas por grande parte da população mundial, como fome, tortura, doenças ou violência das mais variadas.

“Vivemos um mundo turbulento, com um planeta sendo devastado ambientalmente e crescimento das ameaças terroristas”, disse ele, que sugeriu que vivemos uma ‘mudança de época, diferente de nossos avós que viveram uma ‘época de mudanças’. “Assim como na época de Nicolau Copérnico e Galileu Galilei, nos séculos XV e XVI, estamos passando por uma transformação. Tudo que evoluímos até agora trouxe alguns avanços, como as tecnologias na comunicação, mas ainda sofremos com situações como o terrorismo e a fome”.

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Para Frei Betto as escolhas feitas em prol de sociedades cada vez mais firmadas no capital, fizeram com que os direitos econômicos ficassem acima dos direitos humanos. Ele afirmou que a solidariedade foi sendo substituída pela competitividade e vemos as famílias tentando repassar valores subjetivos, enquanto o sistema oferece valores objetivos. “ Enquanto os pais formam os filhos para a cidadania, o sistema capitalista educa para o consumismo. A mercantilização está hoje em todos os aspectos da natureza e vida humana”, ressaltou.

O palestrante disse que a lógica desenvolvimentista fez o consumo ser sinônimo de bem estar, o que atinge em especial os mais vulneráveis, como crianças e adolescentes. Para ele, a grande arma do sistema neoliberal é a publicidade, que transfere a fantasia das crianças para a tela da televisão ou do computador. “Os pais precisam estimular seus filhos a serem protagonistas da história ao invés de apenas colocá-los para assistir”, alertou.

Sobre a realidade política brasileira, Frei Betto foi enfático em dizer que o controle social é o mais importante recurso para aprimorar a democracia no país e que a corrupção é consequência da falta de controle público. “ O governo só funciona na pressão social. Por isso, é necessário levarmos para as ruas não somente protestos, mas também propostas que mostram qual modelo de sociedade queremos”, disse.

SOBRE FREI BETTO

Autor de 60 livros, editados no Brasil e no exterior, Frei Betto nasceu em Belo Horizonte (MG). Estudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia. Frade dominicano e escritor, ganhou em 1982 o Jabuti, principal prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, por seu livro de memórias Batismo de Sangue (Rocco), entre outras premiações e títulos concedidos.